MARIA NA DOUTRINA DA IGREJA

 

Maria na Bíblia

 

O Concilio Vaticano II lembra que é à Sagrada Escritura que se devem ir buscar as «raízes profundas» da fé, que a Igreja professa acerca de Maria: «A Sagrada Escritura do Antigo e do Novo Testamento e a Tradição que veneramos, revelam, numa luz cada vez mais clara, o papel da Mãe do Salvador na economia da salvação» (LG. 55).

Querendo, pois, ir às fontes dessa fé, é ao Novo Testamento, lido á luz do Antigo, que devemos ir, primeiro, buscar as raízes da grandeza de Maria. O mesmo Concilio nos orienta nesta leitura, no belíssimo capitulo VIII da Constitução Lumen Gentium (L.G.), ao tratar da Virgem Maria na economia da salvação.

 

Antigo Testamento

 

Figuras de Maria:

- Eva, companheira de Adão e mãe dos vivos: Génesis 2 e 3.

- A mãe do rei-messias : 1 Reis 2-18-20 ; Isaías 7,14 ; Miqueias 5, 2-3.

- Mulheres por quem Deus salva o seu povo : Ana, a mãe de Samuel na sua acção de graças, prelúdio do Magnificat: 1 Samuel 2, 1-11) ; Judite, «bendita entre todas as mulheres» Judite 13,18 ; 15,19 ; 16,17) ; Ester ; etc.

- A filha de Sião, personificação do povo de Sião que Deus ama : «alegra-te, filha de Sião» (Sofonias 3, 14-17 ; Isaías 12,6 ; 54,1 ; Zacarias 2,14 ; cf. Lucas 1,28).

- Jerusalém que dá á luz (Isaías 66, 5-14).

- A Arca da Aliança, portadora da glória de Deus (Isaías 6; 2Samuel 6).

- Os «pobres de Javé» cuja oração e esperança vão dar ao Magnificat.

 

Novo Testamento

"Quando veio a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito á Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei para que recebêssemos a adopção de filhos" (Carta de S. Paulo aos Gálatas 4, 4-5)

 

O Filho de Deus nasce de uma Mulher

 

Conceição virginal de Jesus

A origem de Jesus Cristo foi assim : Estando Maria, Sua mãe, noiva de José, antes de habitarem juntos, notou-se que tinha concebido do Espírito Santo. E José seu esposo, sendo justo e não a querendo denunciar publicamente, resolveu repudiá-la em segredo. E, pensando ele nisto, um anjo do Senhor apareceu-lhe em sonhos dizendo : José, filho de David, não temas receber Maria por tua esposa, pois, o que nela se gerou é do Espírito Santo. Dará à luz um filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados».

E tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor disse pelo profeta. "Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho e pôr-lhe-ão o nome de Emanuel que quer dizer, Deus connosco (Isaías 7,14)

E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenou e recebeu sua esposa. E não a conheceu até que deu à luz um filho e deu-lhe o nome de Jesus (Mateus 1, 18-25).

Anunciação e Incarnação do Verbo Divino

No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus, a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré a uma virgem, noiva de um homem que se chamava José, da casa de David, e o nome da virgem era Maria. E, tendo entrado, disse-lhe : «Avé cheia de graça, o Senhor está contigo». E ela ficou muito perturbada com estas palavras e pensava que saudação fosse aquela. E o anjo disse-lhe : «Não temas, Maria, porque encontraste graça, diante de Deus. Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo e o Senhor Deus dar-lhe-á o trono de David seu antepassado; e reinará eternamente, sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim».

Mas Maria disse ao anjo : «Como será isso, visto que não conheço homem ?» E o anjo respondeu-lhe : «Espírito Santo descerá sobre ti e o poder do Altíssimo cobrir-te-á com a sua sombra; e por isso o Santo que há-de nascer, será chamado Filho de Deus. E eis que Isabel, tua parenta, concebeu também um filho na sua velhice e já é este o sexto mês para aquela que se chamava estéril; porque a Deus nada é impossível».

E disse Maria : «Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim, segundo a tua palavra». E o anjo afastou-se dela. (Lucas 1, 26-38)

Visita de Maria a Isabel

Naquele tempo Maria partiu apressadamente para a montanha, para uma cidade de Judá, e entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. E quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, e exclamou em voz alta: «Bendita és Tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu seio. E donde me é concedido que venha a mim a mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino exultou de alegria, no meu seio. E bem-aventurada, tu, que acreditaste que havia de cumprir-se o que foi dito pelo Senhor».

E disse Maria :

A minha alma glorifica o Senhor

e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,

Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações.

O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome.

O seu amor se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem.

Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos.

Derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes.

Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.

Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,

como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e á sua descendência para sempre.

E Maria ficou com ela cerca de três meses e voltou para sua casa. (Lucas 1, 39-56)

 

Nascimento de Jesus

Naquele tempo, saiu um decreto de César Augusto para recensear toda a terra habitada. Este primeiro recenseamento efectuou-se, sendo Quirino governador da Síria. E iam todos recensear-se cada um á sua cidade. José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, á Judeia, à cidade de David que se chama Belém, por ser da casa e da descendência de David, para se recensear com Maria, sua esposa, que estava grávida. E quando eles ali estavam, completaram-se os dias de Ela dar á luz, e deu á luz o Seu filho primogénito e envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. (Lucas 2,1-7)

Os pastores e a circuncisão de Jesus

E havia naquela região, uns pastores que viviam nos campos e faziam de noite, a guarda dos seus rebanhos. E apareceu junto deles um anjo do Senhor e a glória do Senhor refulgiu em volta deles e tiveram grande medo. E o anjo disse-lhes : «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria que será para todo o povo : Nasceu-vos, hoje, na cidade de David, um Salvador que é o Cristo Senhor. E isto vos servirá de sinal : Encontrareis um recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura».

E de repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: «Glória a Deus nas Alturas e paz na terra aos homens por Ele amados». E quando os anjos se retiraram para o céu, os pastores disseram uns aos outros: «Vamos, pois, a Belém, e vejamos o que sucedeu e o que o Senhor nos deu a conhecer».

E foram pressurosos e encontraram Maria, José e o recém-nascido, deitado na manjedoura. Tendo-o visto contaram o que lhes tinha sido dito acerca daquele menino. E todos os que ouviam, admiravam-se do que os pastores lhes diziam. Maria, porém, conservava todas estas coisas, meditando-as, no seu coração. E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus, por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido dito.

E quando se completaram os oito dias para O circuncidarem, puseram-lhe o nome de Jesus, indicado pelo anjo, antes de ter sido concebido no seio materno» (Lucas 2, 8-21).

Apresentação de Jesus no Templo

E quando se completaram os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo o Primogénito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Êxodo 13,2.12.15) e para oferecerem, em sacrifício, segundo o que está escrito na Lei do Senhor: um par de rolas ou duas pombinhas (Levítico 12,8).

Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão e este homem era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo estava nele. E tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor. E veio ao Templo, movido pelo Espírito. Quando os pais traziam o menino Jesus para cumprirem as prescrições da Lei a seu respeito, ele tomou-o nos braços, louvou a Deus e disse :

"Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque meus olhos viram a salvação que oferecestes a todos os povos, luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo."

Seu pai e mãe estavam admirados do que dele se dizia. E Simeão abençoou-os e disse a Maria, Sua mãe : «Eis que este está para ruína e ressurreição de muitos em Israel e para sinal de contradição. .E uma espada há-de trespassar a tua própria alma, a fim de que sejam revelados os pensamentos de muitos corações».

Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Áser. Estava muito avançada em idade e tinha vivido sete anos com seu marido, depois da sua virgindade. E tinha permanecido viúva até aos oitenta e quatro anos e não se afastava do Templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações. E aparecendo naquela hora, louvava a Deus e falava dele a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.

Depois de terem cumprido tudo, segundo a Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré.

Entretanto o Menino crescia e fortificava-se cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava nele».

Adoração dos Magos

Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos, vindos do Oriente, chegaram a Jerusalém, e perguntaram: «Onde está o recém-nascido rei dos Judeus ? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. Então o rei Herodes, tendo ouvido, ficou perturbado e toda a Jerusalém com ele. E tendo reunido todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo, informou-se deles, onde havia de nascer o Cristo. E eles disseram-lhe : «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo profeta: «E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor, entre as principais cidades de Judá, porque de ti há-de sair um chefe que há-de apascentar o meu povo, Israel» (Miqueias 5, 1-3). E Herodes tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles, cuidadosamente, o tempo da aparição da estrela ; e tendo-os enviado a Belém disse : «Ide e informai-vos, com precisão, acerca do Menino e, quando O tiverdes encontrado, anunciai-mo para que também eu vá adora-lo». E eles, tendo ouvido o rei, partiram ; e eis que a estrela que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que, chegando, parou sobre o lugar onde estava o Menino.

Ao verem a estrela alegraram-se enormemente. E tendo entrado na casa, viram o Menino com Maria, Sua mãe, e caindo de joelhos, prostraram-se diante dele e tendo aberto os seus cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E tendo sido divinamente avisados em sonhos, para não voltarem a Herodes, regressaram por outro caminho, para o seu pais» (Mateus 2,1-12)

Fuga para o Egipto

Tendo eles partido, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, e disse: «Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe e foge para o Egipto, e fica lá até que eu te diga ; pois, Herodes vai procurar o Menino para O matar». E ele, tendo-se levantado, tomou o Menino e Sua mãe, de noite, e retirou-se para o Egipto. E esteve lá até á morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor disse por meio do profeta : « Do Egipto chamei o meu Filho» (Oseias 11,1) (Mateus 2, 13-15).

Massacre dos inocentes

Mas Herodes vendo que tinha sido enganado pelos Magos, irritou-se muito e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e em todos os seus arredores, de dois anos para baixo, segundo o tempo que tinha inquirido dos Magos. Então cumpriu-se o que disse o profeta Jeremias (31, 15) : «Ouviu-se um voz em Ramá, choro e grande pranto : É Raquel chorando os seus filhos e não quis ser consolada porque já não existiam.» (Lucas 2, 16-19)

Volta do Egipto para Nazaré

Tendo morrido Herodes, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José no Egipto, e disse : «Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe e vai para a terra de Israel, pois morreram os que procuravam a vida do Menino». E ele tendo-se levantado, tomou o Menino e Sua mãe e entrou na terra de Israel. Mas tendo sabido que Arquelau reinava na Judeia, em vez de seu pai, Herodes temeu ir para lá ; e tendo sido divinamente avisado em sonhos, retirou-se para a região da Galileia. E veio habitar numa cidade, chamada Nazaré, para que se cumprisse o que tinha sido dito pelos profetas: «Será chamado Nazareno» (Lucas 2, 19-23).

Encontro de Jesus no Templo

Os Seus pais iam todos os anos a Jerusalém, á festa da Páscoa.

E quando chegou aos doze anos, subindo eles, segundo costume da festa, tendo terminado os dias, quando eles regressaram, o Menino Jesus ficou em Jerusalém e os Seus pais não souberam. Julgando que Ele estava na caravana, andaram o caminho de um dia, e procuraram-no entre os parentes e conhecidos. Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém a procura-lo.

Depois de três dias, encontraram-no no Templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que o ouviam, estavam estupefactos com a sua sabedoria e com as Suas respostas. Quando o viram, ficaram maravilhados. Sua mãe disse-lhe : «Filho, porque procedeste assim connosco? Eis que teu pai e eu, torturados, te procurávamos».

E disse-lhes : «Porque me procuráveis ? Não sabíeis que devia ocupar-me das coisas de meu Pai.»

E eles não compreenderam o que lhes disse. E desceu com eles e veio para Nazaré e era-lhes submisso.

Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens (Lucas 2, 41-52).

Casamento em Caná da Galileia

E ao terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia e estava lá a mãe de Jesus. Foram também convidados Jesus e os seus discípulos para o casamento. E tendo faltado o vinho, a mãe de Jesus diz-lhe : «Não têm vinho». Jesus diz-lhe : «Mulher, que importa isso a mim e a ti? A Minha hora ainda não chegou». Diz a sua mãe aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser». Ora havia ali seis talhas de pedra, destinadas á purificação dos judeus, levando cada uma duas ou três medidas.

Diz-lhes Jesus : «Enchei as talhas de água». E encheram-nas até a cima. E diz-lhes : «Tirai agora e levai ao chefe de mesa». E eles levaram. Quando o chefe da mesa provou a água mudada em vinho e não sabia donde era, mas os serventes sabiam porque tinham tirado a água, o chefe de mesa chama o esposo e diz-lhe : «Toda a gente serve primeiro o vinho bom e quando já têm bebido bem, então, serve o inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora». Este foi o inicio dos sinais que fez Jesus em Caná da Galileia e manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram nele. Depois desceram para Cafarnaúm : Ele, sua mãe, parentes e seus discípulos e não se demoraram lá muitos dias». (João 2,1-12)

Verdadeiros parentes de Jesus

E chegam a sua mãe e os seus parentes ; e, estando fora, mandaram-no chamar. E a multidão estava sentada em volta dele e disseram-lhe : «Eis a tua mãe, os teus parentes e parentas estão lá fora e procuram-te». E Ele disse-lhes : «Quem é a minha mãe e os meus parentes? E olhando aqueles que estavam sentados, em circulo, em volta dele, disse : «Eis a Minha mãe e os meus parentes. Aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu parente e minha parenta e minha mãe» (Mateus, 12, 46-50 e Lucas 8, 11-21).

Verdadeira felicidade

E enquanto Ele dizia isto, uma mulher da multidão, elevando a voz, disse-lhe: «Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram». Mas Ele disse: «Felizes antes, os que ouvem a palavra de Deus e a guardam» (Lucas 11, 27-28).

Mãe de todos os homens

E estavam junto da cruz de Jesus: Sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas e Maria Madalena. Jesus tendo visto sua mãe e ali junto, o discípulo que Ele amava, disse á mãe: «Mulher, eis o teu filho». Em seguida disse ao discípulo : «Eis a tua mãe». E desde aquela hora, o discípulo tomou-a consigo. (João 19, 25-27).

Mãe da Igreja

Voltaram então para Jerusalém do monte, chamado das Oliveiras que está perto de Jerusalém, à distância de uma caminhada de sábado. E logo que entraram na cidade, subiram à sala superior, onde permaneciam habitualmente, Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago filho de Alfeu e Simão-o-Zelotes e Judas, irmão de Tiago. Todos eles se conservavam unidos em oração com as mulheres e Maria Mãe de Jesus e com os parentes dele. (Actos 1, 12-14)

A descida do Espírito Santo

Quando chegou o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio cio céu um ruído, como um vento forte, e encheu toda a casa onde estavam. Apareceram-lhes umas línguas, á maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. E ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que se exprimissem.

Ora residiam em Jerusalém, judeus piedosos, vindos de todas as nações que há sob o céu. Ao ouvir o ruído forte, a multidão juntou-se e ficou estupefacta porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E estavam atónitos, e maravilhados diziam : Não são galileus, estes que falam? E como os ouvimos cada um de nós, na nossa língua materna? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da judeia, da Capadócia, do Ponto, e da Ásia, da Frígia, e da Panfília, do Egipto, e das regiões da Líbia, da vizinha Cirene e colonos romanos, judeus e prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas, as maravilhas de Deus». Estavam todos atónitos e perplexos (Actos 2, 1-12).

A mulher envolvida pelo sol

Um sinal grandioso apareceu no céu. Uma mulher envolvida pelo sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. Estava grávida e gritava com dores e ânsias de parto. Apareceu, em seguida outro sinal no céu. Um grande dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres e cada cabeça coroada de um diadema. A sua cauda varreu a terceira parte das estrelas do céu e precipitou-as sobre a terra. E o dragão deteve-se diante da mulher que estava para dar á luz, e preparava-se para devorar-lhe o filho logo que nascesse. Ora a mulher deu á luz um filho varão que deve governar todas as nações com um ceptro de ferro; mas o filho foi arrebatado para junto de Deus e do Seu trono. Então a mulher fugiu para o deserto onde Deus lhe tinha preparado um refúgio para ali ser alimentada durante mil duzentos e sessenta dias.

Travou-se então um grande combate no céu : Miguel e os seus anjos combateram contra o dragão. O dragão combatia também apoiado pelos seus anjos, mas estes foram vencidos e foram expulsos do céu. O grande dragão, a antiga serpente, o Demónio, Satanás como se chama, o sedutor do mundo inteiro, foi precipitado sobre a terra e os seus anjos foram precipitados juntamente com ele, e ouvi uma voz forte que clamava no céu: Agora chegou o tempo da salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e a autoridade do Seu Cristo porque foi precipitado o acusador dos nossos irmãos, aquele que os acusava, dia e noite, diante de Deus. Eles venceram-no pelo sangue do Cordeiro e pelo testemunho do seu martírio porque desprezaram a sua vida até sofrerem a morte.

Alegrai-vos, pois, ó céus e vós que neles habitais. Ai de vós, terra e mar, porque o Demónio desceu sobre vós, fremente de ira, sabendo que já lhe resta pouco tempo.

Quando o dragão viu que tinha sido precipitado sobre a terra, lançou-se em perseguição da mulher que dera á luz o filho varão. Mas a mulher recebeu duas asas da grande águia para voar para o deserto, para o lugar que lhe estava reservado e onde longe da Serpente, deve ser alimentada, durante um tempo, tempos e metade de um tempo. A Serpente vomitou então da sua boca como um rio de água atrás da mulher, para a submergir pelas suas ondas. Mas a terra veio em socorro da mulher; abriu a boca e engoliu o rio vomitado pela goela do dragão.

Furioso contra a mulher, o dragão foi fazer guerra contra o resto da descendência dela que cumpre os mandamentos de Deus e possui o testemunho de Jesus. E ficou de pé sobre a areia do mar. (Apocalipse 12,1-8)

 


 

QUATRO VERDADES DE FÉ

 

Quatro são as grandes verdades de Fé, definidas pela Igreja sobre Nossa Senhora :

  1. Imaculada Conceição.

  2. Virgindade Perpétua.

  3. Maternidade Divina.

  4. Assunção em corpo e Alma ao Céu.

 

Imaculada Conceição

A 8 de Dezembro de 1854, pela bula Ineffabilis Deus, o Papa Pio IX declarou como verdade de fé a Conceição Imaculada da Virgem Santa Maria :

"Depois de termos incessantemente oferecido na humildade e no jejum as nossas orações particulares e as preces públicas da Igreja a Deus Pai por meio de Seu Filho, para que se dignasse dirigir e conformar o nosso espírito com a virtude do Espírito Santo, tendo implorado o auxilio de toda a Corte Celeste e invocado com gemidos o Espírito Consolador, por Sua divina inspiração, para honra da Santíssima e Indivisível Trindade, glória e ornamento da Virgem Mãe de Deus, exaltação da Fé Católica e aumento da Religião Cristã, por autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e Nossa, declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina que sustenta que Beatíssima Virgem Mãe no primeiro instante da sua Conceição foi por graça e privilégio singular de Deus todo-poderoso, e em vista dos merecimentos de Jesus Cristo Salvador do género humano, preservada e isenta de toda a mácula da culpa original, foi revelada por Deus, e como tal deve ser firme e constantemente crida por todos os fiéis.

Pelo que, se alguém - o que Deus não permita, - presumir pensar de modo contrário a esta nossa definição, entenda e fique sabendo que por seu próprio juízo se condena, que fez naufrágio na fé, separando-se da unidade da Igreja, e que, por esse seu próprio acto, incorre nas penas estabelecidas pelo direito, se por palavra ou escrito ou por outra qualquer forma exterior se atrever a manifestar o que interiormente pensa".

 

Virgindade Perpétua

A Fé da Igreja manifesta-se nos Símbolos que desde o principio chamaram a Maria Santíssima "Virgem", "Sempre Virgem".

No século V o Papa S. Leão Magno na carta dogmática de 13 de Junho de 449, a Flaviano, Patriarca de Constantinópola, declara: "A Virgindade inviolada ignorou a concupiscência e subministrou a matéria da carne. Tomou (Deus) da Mãe do Senhor a natureza não a culpa".

Os Padres do primeiro Concílio de Calcedónia acolheram esta carta com gritos : "Pedro falou pela boca do Leão".

Definição clara e completa da Virgindade de Maria, antes do parto, no parto e depois do parto, já a temos no Primeiro Concilio de Latrão celebrado em 649 no Pontificado de S. Martinho I:

"De acordo com os Santos Padres, se alguém não confessar propriamente e segundo a verdade por Mãe de Deus, a Santa e sempre Virgem Maria, pois concebeu própria e verdadeiramente, nos últimos tempos sem sémen, por obra do Espírito Santo o mesmo Verbo Deus, que antes de todos os séculos nasceu de Deus Pai e incorruptivelmente o gerou, permanecendo Ela, mesmo depois do parto, na sua Virgindade indissolúvel, seja condenado".

O Papa Paulo IV a 7 de Agosto de 1555, na Constituição Cum Quorundam condena a opinião daqueles que negam que a "Beatíssima Virgem Maria permaneceu sempre na integridade da Virgindade a saber, antes do parto, no parto e perpetuamente depois do parto".

É a fé que o Credo amplo de Santo Epifânio expressava com o termo "sempre Virgem" e que o Papa Paulo IV articulava na forma ternária de virgem "antes do parto, no parto, e perpetuamente depois do parto" (Ib 1880). E a mesma que ensina Paulo VI : "Cremos que Maria é Mãe sempre Virgem do Verbo encarnado" (Paulo VI, "Credo do Povo de Deus", 30 Junho, 1968)

 

Maternidade Divina

Toda a controvérsia teológica acerca da Maternidade Divina de Maria andou, durante séculos, á volta da palavra "Theotokos", (Mãe de Deus ou aquela que dá Deus á luz). Enquanto os nestorianos, monofisitas e arianos negavam este titulo á Virgem Maria, sempre para Ela o reivindicou a igreja. O Concílio de Éfeso, que condenou como herege Nestório, aprovou a carta de S. Cirilo contra o mesmo heresiarca : "Não nasceu primeiro um homem qualquer, da santa Virgem, sobre o qual desceu depois o Verbo, mas, unido desde o seio materno, diz-se que se submeteu ao nascimento carnal, como quem faz seu nascimento da própria carne... Deste modo [os Santos Padres] não tiveram inconveniente em chamar Mãe de Deus à Santa Virgem".

O Segundo Concílio de Constantinópola, no ano de 553, no Pontificado do Papa Virgílio, declarou:

"Se alguém chamar á santa gloriosa sempre Virgem Maria, mãe de Deus, em sentido figurado e não em sentido próprio, seja anátema".

O Concílio de Latrão do ano de 649, no Pontificado de S. Martinho I :

"Se alguém, de acordo com os Santos Padres não confessar propriamente e segundo a verdade por Mãe de Deus a santa e sempre Virgem Maria..., seja condenado".

O Terceiro Concilio de Constantinópola, no ano de 680, no Pontificado de Santo Agatão declara:

"Nosso Senhor Jesus Cristo... nasceu do Espírito Santo e de Maria Virgem, que é segundo a humanidade, própria e verdadeiramente Mãe de Deus."

O Papa Paulo IV, a 7 de Agosto de 1555 condenou aqueles que negam "que a mesma beatíssima Virgem Maria não é verdadeira Mãe de Deus".

 

Assunção em Corpo e Alma ao Céu

Pela Constituição Apostólica Munificentissimus Deus no dia 1 de Novembro do Ano Santo de 1950, definiu o Papa Pio XII como verdade de fé que Nossa Senhora foi elevada ao Céu em corpo e alma :

"Depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a luz do Espírito de verdade, para glória de Deus omnipotente que à Virgem Maria concedeu a sua especial benevolência para honra de seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta Mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Bem-aventurados Apóstolos S Pedro e S Paulo e com a Nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: A Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste.

Pelo que, se alguém, - o que Deus não permita, - ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta Nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.

A ninguém pois seja licito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intenta-lo, saiba que incorre na indignação de Deus Omnipotente e dos Bem-aventurados Apóstolos S. Pedro e S. Paulo."


CONCÍLIO VATICANO II

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA «LUMEN GENTIUM» SOBRE A IGREJA

Capítulo VIII

A BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA MÃE DE DEUS

NO MISTÉRIO DE CRISTO E DA IGREJA

I

INTRODUÇAO

 

A Virgem Mãe de Cristo

52. Querendo Deus, na Sua infinita benignidade e sabedoria, levar a cabo a redenção do mundo, «ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Seu Filho, nascido de mulher,… a fim de recebermos a filiação adoptiva» (Gálatas 4,4-5). «Por amor de nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus e encarnou da Virgem Maria, por obra e graça do Espírito Santo». O mistério da salvação é-nos revelado e continua na Igreja, instituída pelo Senhor como Seu corpo; nela, os fiéis, aderindo à cabeça que é Cristo, e em comunhão com todos os santos, devem também venerar a memória «em primeiro lugar da gloriosa Virgem Maria Mãe do nosso Deus e Senhor Jesus Cristo».

A Virgem e a Igreja

53. Efectivamente, a Virgem Maria, que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no seio, e deu ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor. Remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predilecta do Pai e templo do Espirito Santo, e, por este insigne dom da graça, leva vantagem a todas as demais criaturas do céu e da terra.

Está, porém, associada, na descendência de Adão, a todos os homens necessitados de salvação; melhor, «é verdadeiramente Mãe dos membros (de Cristo)..., porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça». É, por esta razão, saudada como membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo Espirito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afecto de piedade.

Intenção do Concílio

54. Por isso, o sagrado Concilio, ao expor a doutrina acerca da Igreja, na qual o divino Redentor realiza a salvação, pretende esclarecer cuidadosamente não só o papel da Virgem Santíssima no mistério do Verbo encarnado e do Corpo místico, mas também os deveres dos homens resgatados para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e Mãe dos homens, sobretudo dos fiéis. Não tem, contudo, intenção de propor toda a doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não totalmente esclarecidas pelos teólogos. Conservam, por isso, os seus direitos as opiniões que nas escolas católicas livremente se propõem acerca daquela que, na santa Igreja, ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós4.

 

II

A VIRGEM SANTÍSSIMA NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO

A Mãe do Redentor no Antigo Testamento

55. A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição mostram de modo progressivamente mais claro e como que nos põem diante dos olhos o papel da Mãe do Salvador na economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente (cf Génesis 3,15), feita aos primeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emmanuel (cf. Isaías 7,14; cfr. Miqueias 5,2-3; Mateus 1,22-23). É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus. Com ela, enfim, excelsa Filha de Sião, passada a longa espera da promessa, se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza humana, para libertar o homem do pecado com os mistérios da Sua vida terrena.

Maria na Anunciação

56. Mas o Pai das misericórdias quis que a aceitação por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida. É o que se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida, que tudo renova. Deus adornou-a com dons dignos de uma tão grande missão; e, por isso, não é de admirar que os santos Padres chamem com frequência à Mãe de Deus «toda santa» e «imune de toda a mancha de pecado», visto que o próprio Espírito Santo a modelou e dela fez uma nova criatura. Enriquecida, desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores duma santidade singular, a Virgem de Nazaré é saudada pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia de graça» (cf. Lucas, 1,28); e responde ao mensageiro celeste: «eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lucas 1,38). Deste modo, Maria, filha de Adão, dando o seu consentimento á palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, á pessoa e á obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção. Por isso, consideram com razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens. Como diz S. Ireneu, «obedecendo, ela tornou-se causa de salvação, para si e para todo o género humano». Eis porque não poucos Padres afirmam com ele, nas suas pregações, que «o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com a sua fé»; e, por comparação com Eva, chamam Maria a «mãe dos vivos» e afirmam muitas vezes: «a morte veio por Eva, a vida veio por Maria» (S. Jerónimo).

Maria na infância de Jesus

57. Esta associação da mãe com o Filho na obra da salvação, manifesta-se desde a conceição virginal de Cristo até á sua morte. Primeiro, quando Maria, tendo partido solicitamente para visitar Isabel, foi por ela chamada bem-aventurada, por causa da fé com que acreditara na salvação prometida, e o precursor exultou no seio de sua mãe (cf. Lucas 1,41-45); depois, no nascimento, quando a Mãe de Deus, cheia de alegria, apresentou aos pastores e aos magos o seu Filho primogénito, o qual não só não lesou a sua integridade, mas antes a consagrou. E quando O apresentou no templo ao Senhor, com a oferta dos pobres, ouviu Simeão profetizar que o Filho viria a ser sinal de contradição e que uma espada trespassaria o coração da mãe, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos (cf. Lucas 2,34-35). Ao Menino Jesus, perdido e buscado com aflição, encontraram-no os pais no templo, ocupado nas coisas de Seu Pai; e não compreenderam o que lhes disse. Mas sua mãe conservava todas estas coisas no coração e nelas meditava (cf. Lucas 2,41-51).

Maria na vida pública e na paixão de Cristo

58. Na vida pública de Jesus, Sua mãe aparece duma maneira bem marcada logo no princípio, quando, nas bodas de Caná, movida de compaixão, levou Jesus Messias a dar início aos Seus milagres. Durante a pregação de Seu Filho, acolheu as palavras com que Ele, pondo o reino acima de todas as relações de parentesco, proclamou bem-aventurados todos os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática; coisa que ela fazia fielmente (cfr. Lucas 2,19 e 51). Assim avançou a Virgem pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com o seu Filho até à cruz. Junto desta esteve, não sem desígnio de Deus (cfr. João 19,25), padecendo acerbamente com o seu Filho único, associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima que dela nascera; finalmente, Jesus Cristo, agonizante na cruz, deu-a por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí o teu filho (cf. João 16,26.27).

Maria depois da Ascensão

59. Tendo sido do agrado de Deus não manifestar solenemente o mistério da salvação humana antes que viesse o Espírito prometido por Cristo, vemos que, antes do dia de Pentecostes, os Apóstolos «perseveraram unanimemente em oração, com as mulheres, Maria Mãe de Jesus e Seus irmãos» (Actos 1,14), implorando Maria, com as suas orações, o dom daquele Espírito, que já sobre si descera na anunciação, Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa originali, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma, e exaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores (cf. Apocalipse 19,16) e vencedor do pecado e da morte .

III

A VIRGEM SANTÍSSIMA E A IGREJA

O influxo salutar de Maria e a mediação de Cristo

60. O nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: «não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos» (1 Timóteo 2,5-6). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece.

A maternidade espiritual

61. A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde toda a eternidade simultaneamente com a encarnação do Verbo, por disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentado-o ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. E por esta razão nossa mãe na ordem da graça.

A natureza da sua mediação

62. Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção,, desde o consentimento, que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até à consumação eterna de todos os eleitos. De facto, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo.

Efectivamente, nenhuma criatura se pode equiparar ao Verbo encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde variamente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas/cooperações diversas, que participam dessa única fonte. Esta função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em proclama-la; sente-a constantemente e inculca-a aos fiéis, para mais intimamente aderirem, com esta ajuda materna, ao seu mediador e salvador.

Maria tipo de Igreja, como Virgem e Mãe

63. Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, está também a Virgem intimamente ligada à Igreja: a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, como já ensinava S. Ambrósio. Com efeito, no mistério da Igreja, a qual é também com razão chamada mãe e virgem, a bem-aventurada Virgem Maria foi adiante, como modelo eminente e único de virgem e de mãe. Porque, acreditando e obedecendo, gerou na terra, sem ter conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai; nova Eva, que acreditou sem a mais leve sombra de dúvida, não na serpente antiga, mas no mensageiro celeste. E deu à luz um Filho, que Deus estabeleceu primogénito de muitos irmãos (Romanos 8,29), isto é, dos fiéis, para cuja geração e educação Ela coopera com amor de mãe.

A fecundidade virginal da Igreja

64. Por sua vez, a Igreja que contempla a sua santidade misteriosa e imita a sua caridade, cumprindo fielmente a vontade do Pai, torna-se também, ela própria, mãe, pela fiel recepção da palavra de Deus: efectivamente, pela pregação e pelo Baptismo, gera, para vida nova e imortal, os filhos concebidos por acção do Espírito Santo e nascidos de Deus. E também ela é virgem, pois guarda fidelidade total e pura ao seu Esposo e conserva virginalmente, á imitação da Mãe do seu Senhor e por virtude do Espírito Santo, uma fé integra, uma sólida esperança e uma verdadeira caridade.

Virtudes de Maria

65. Mas, ao passo que, na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já aquela perfeição sem mancha nem ruga que lhe é própria (cf. Efésios 5,27), os fiéis ainda têm de trabalhar por vencer o pecado e crescer na santidade; e por isso levantam os olhos para Maria, que brilha como modelo de virtudes sobre toda a família dos eleitos. A Igreja, meditando piedosamente na Virgem, e contemplando-a á luz do Verbo feito homem, penetra mais profunda" mente, cheia de respeito, no insondável mistério da Encarnação, e mais se conforma com o seu Esposo. Pois Maria, que entrou intimamente na história da salvação, e, por assim dizer, reúne em si e reflecte os imperativos mais altos da nossa fé, ao ser exaltada e venerada, atrai os fiéis ao Filho, ao Seu sacrifício e ao amor do Pai. Por sua parte, a Igreja, procurando a glória de Cristo, torna-se mais semelhante àquela que é seu tipo e sublime figura, progredindo continuamente na fé, na esperança e na caridade, e buscando e fazendo em tudo a vontade divina.

Daqui vem igualmente que, na sua acção apostólica, a Igreja olha com razão para aquela que gerou a Cristo, o qual foi concebido por acção do Espírito Santo e nasceu da Virgem precisamente para nascer e crescer também no coração dos fiéis, por meio da Igreja. E, na sua vida, deu a Virgem exemplo daquele afecto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja tem de regenerar os homens.

 

IV

 

O CULTO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM NA IGREJA

Natureza e fundamento do culto

66. Exaltada por graça do Senhor e colocada, logo a seguir a seu Filho, acima de todos os anjos e homens, Maria que, como mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de Cristo, é com razão venerada pela Igreja com culto especial. E, na verdade, a Santíssima Virgem é, desde os tempos 'mais antigos, honrada com o título de «Mãe de Deus», e sob a sua protecção se acolhem os fiéis, em todos os perigos e necessidades". Foi sobretudo a partir do Concilio do Éfeso que o culto do Povo de Deus para com Maria cresceu admiravelmente, na veneração e no amor, na invocação e na imitação, segundo as suas proféticas palavras: «Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas Aquele que é poderoso» (Lucas 1,48). Este culto, tal como sempre existiu na Igreja, embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente. Na verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus, aprovadas pela Igreja, dentro dos limites da sã e recta doutrina, segundo os diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e glorifique o Filho, por quem tudo existe (cfr. Colossences 1,15-16) e no qual «aprouve a Deus que residisse toda a plenitude» (Colosences 1,19), e também melhor se cumpram os seus mandamentos.

Espírito da pregação e do culto

67. Muito de caso pensado ensina o sagrado Concílio esta doutrina católica, e ao mesmo tempo recomenda a todos os filhos da Igreja que fomentem generosamente o culto da Santíssima Virgem, sobretudo o culto litúrgico, que tenham em grande estima as práticas e exercícios de piedade para com Ela, aprovados no decorrer dos séculos pelo magistério, e que mantenham fielmente tudo aquilo que no passado foi decretado acerca do culto das imagens de Cristo, da Virgem e dos santos. Aos teólogos e pregadores da palavra de Deus, exorta-os instantemente a evitarem com cuidado, tanto um falso exagero como uma demasiada estreiteza na consideração da dignidade singular da Mãe de Deus .

Estudando, sob a orientação do magistério, a Sagrada Escritura, os santos Padres e Doutores, e as liturgias das Igrejas, expliquem como convém as funções e os privilégios da Santíssima Virgem, os quais dizem todos respeito a Cristo, origem de toda a verdade, santidade e piedade. Evitem com cuidado, nas palavras e atitudes, tudo o que possa induzir em erro acerca da autêntica doutrina da Igreja os irmãos separados ou quaisquer outros. E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes.

 

V

MARIA, SINAL DE SEGURA ESPERANÇA

E DE CONSOLAÇÃO PARA O POVO DE DEUS PEREGRINANTE

Sinal de esperança e consolação

68. Entretanto, a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há-de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor (cf. 2Pedro 3,10).

Medianeira para a unidade da Igreja

69. E é uma grande alegria e consolação para este sagrado Concílio o facto de não faltar entre os irmãos separados quem preste á Mãe do Senhor e Salvador o devido culto; sobretudo entre os Orientais, que acorrem com fervor e devoção a render culto à sempre Virgem Mãe de Deus. Dirijam todos os fiéis instantes súplicas á Mãe de Deus e mãe dos homens para que Ela, que assistiu com suas orações aos começos da Igreja, também agora, exaltada sobre todos os anjos e bem-aventurados, interceda, junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, até que todos os povos, tanto os que ostentam o nome cristão, como os que ainda ignoram o Salvador, se reunam felizmente, em paz e harmonia, no único Povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade.

 

Vossemecê quem é?